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MISÉRIA EM MONTES CLAROS

Campanha pede ajuda para famílias que residem aos fundos do ‘lixão’ da cidade
Alguns moradores ainda recolhem materiais que são depositados no local
Uma campanha iniciada pela internet está levantando donativos para ajudar famílias que vivem aos fundos do lixão de Montes Claros. O espaço, desativado há poucas semanas, era usado como fontes de renda para as famílias, que agora dependem de doações para sobreviver. A reportagem Gazeta foi ao local na manhã de ontem (16) e conversou com alguns moradores que vivem em situação quase que desumana.
O trabalho voluntário em questão é organizado por um grupo de amigos. Uma das idealizadoras do projeto, uma advogada que não quis ter o nome revelado, acompanhou a visita do jornal. “Depois de ter a ideia falei com um grupo de amigos e um deles sugeriu que as famílias do lixão fossem atendidas. Fui ao local para conhecer e demos início a campanha”, afirmou. O ideal é recente, tem pouco mais de um mês, mas a perspectiva é de continuidade. “O projeto ainda não tem uma identidade definida, mas vamos continuar recebendo doações, inclusive para doar para outras famílias que vivem em outros pontos críticos de Montes Claros”.
Moradores relatam como é a vida no lixo e o que pretendem fazer de agora em diante
Elenita Oliveira Sampaio, de 60 anos, vive no local há 27. Ela conta que construiu a casa onde mora com o trabalho no lixo. “Hoje eu moro com meu marido e dois netos, mas já viveram aqui mais de 13 pessoas”. Os filhos de Elenita são vizinhos dela e também retiravam o sustento no local. Para ela, a desativação do lixão sem qualquer tipo de ajuda oferecida pelo poder público vai causar problemas. “Vai prejudicar quem ganhava dinheiro com o trabalho. Agora que fechou vai ser do jeito que Deus quer. Quem vivia do lixo diretamente, agora está numa pior”, afirmou.
Famílias inteiras recolhiam materiais recicláveis, inclusive crianças. “Tinham guardas que proibiam, mas depois que souberam que o lixão ia fechar eles abriram mão e ninguém falou mais nada sobre as crianças no lixo”. Segundo ela, as famílias foram pegas de surpresa. “Ficamos sabendo pelos motoristas de caminhões que talvez fechasse, mas nunca ninguém veio aqui saber se íamos precisar de alguma coisa”.
Uma agente do PSF faz o acompanhamento, porém os serviços são oferecidos num posto de saúde do bairro São Geraldo. Na unidade, segundo os moradores, são aplicadas vacinas e realizados procedimentos básicos. “Chegar ao posto é por nossa conta. Cortamos caminho em meio ao mato e mesmo assim são quase duas horas de caminhada para chegar”.
‘MEREJO’
O depoimento da moradora Ana Lucia foi o que mais chamou a atenção. Segundo ela, uma das coisas que mais estaria fazendo falta é o ‘merejo’. São caçambas repletas de alimentos vencidos ou perto do vencimento que são recolhidos nos grandes supermercados na cidade. “A gente arrecadava carnes, verduras e até iogurtes para as crianças. Ajudava muito na hora de sustentar a família, mas agora isso também não vem mais”, detalhou.
Enquanto conversava com a reportagem, Ana Lucia remexia um monte de entulho que acabara de ser despejado aos fundos da própria casa. Entre os restos de construção estavam lâmpadas fluorescentes e pontos afiadas de ferro. Ela mora a cinco anos no lixão e afirma não saber o que fazer após a desativação. “Agora que fechou a gente está catando plástico duro e algumas garrafas pet, mas até quando ninguém sabe. Como se diz: é só pra não morrer de fome mesmo. Acho que eles deveriam olhar pra gente aqui. Estamos passando uma situação que só Deus”, finalizou.
RECÉM-NASCIDO
Cleide Pereira da Silva é mãe de dois filhos, um deles com apenas cinco meses de idade. Morando a dois anos no local ela conta que a maior necessidade agora é arrumar um emprego para o marido. “O povo sempre ajuda a gente aqui com comida, ganhei até algumas fraudas no dia das crianças. Meu marido precisa arrumar logo um emprego, porque está ficando difícil”, contou. Assim como em todos os barracos do local, a água utilizada pela família é mantida em tambores sujos. Por mais incrível que possa parecer o recurso é usado também para higiene pessoal. (JM)
De acordo com a voluntária, um levantamento feito revelou a existência 29 crianças, entre elas quatro recém-nascidos, e 27 adultos vivendo no lixão. Entre os adultos há uma grávida, que dará à luz em breve. Segundo ela, as reivindicações feitas pelas famílias são inúmeras e vão desde pedidos por vestuário até alimentos. “A maioria pede roupas e alimentos. Têm alguns que precisam de fraudas e leite para atender as crianças. Já são quatro recém-nascidos e está chegando mais um, por isso creio que a doação de fraudas é urgente”.
ESTRUTURA
A falta de qualquer espécie de estrutura é visível e faz com que a indiferença do poder público seja evidente. A moradora mais antiga tem 60 anos e há 27 vive no local. No período já se passaram por volta de sete prefeitos, dezenas de vereadores, diversos gerentes e coordenadores de instituições públicas. Indiretamente, os entes que compõem a prestação de serviços públicos são coniventes, levam e certamente continuarão levando o assunto em ‘banho-maria’.
Falta água encanada, falta energia e, literalmente, crianças vivem em meio ao lixo, de onde desenterram brinquedos inimagináveis para passar o dia a dia esperando talvez um futuro com melhores condições. “Muitos querem ficar, mas a maioria quer sair do lixão. A questão é que sem a existência de um projeto que atenda essa gente de forma completa, de que adianta. Eles são retirados dali [do lixão] e vão ter qual ocupação”, desabafou a voluntária, completando que até então não há nenhuma notícia de movimento para atender plenamente as famílias.
Enquanto visitava os barracos existentes na localidade, a voluntária lembrou também da necessidade de emprego. “Um dos homens que vivem aqui me abordou dizendo que trabalhava no lixão e agora está procurando emprego. Ele me pediu ajuda para arrumar um trabalho na cidade e disse que precisa urgente para conseguir sustentar o filho de cinco meses”.
AJUDA
Conforme a voluntária, além de ajudar as famílias do lixão, o projeto vai seguir atendendo pessoas carentes. “Quem quiser ajudar pode fazer sua doação de qualquer material, inclusive de limpeza, papel higiênico, coisas básicas para o dia-a-dia de uma casa. Leite e frauda infantis, alimentos não perecíveis, talvez até cestas básicas”. Também são aceitas doações de roupas em bom estado de conservação. Os donativos podem ser entregues a rua Osvaldo Nobre, 179, bairro Morada do Parque, até o próximo dia 24 de outubro, quando ocorrerá a entrega às famílias.
fonte - em cima da noticia.com

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