O ocaso do PT
Longe do poder e
atolado em corrupção, o partido terá dificuldades para manter a militância e vê
seu fim cada vez mais próximo
A saída de Dilma Rousseff do
Palácio da Alvorada pelas portas dos fundos da história simboliza mais do que o
desfecho de 13 anos do Partido dos Trabalhadores à frente do País. Marca o
sepultamento petista. Aquele PT, fundado sob a insígnia da ética, não existe
mais. A legenda da estrela vermelha será lembrada com o carimbo de corrupção
estampado nas suas cinco pontas. Três de seus tesoureiros, entre eles Delubio
Soares e João Vaccari Neto, foram ou estão presos. Convivem atrás das grades
com dirigentes, como José Dirceu. Nem a biografia do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva sobreviveu às manchas do Petrolão. Ele mesmo tem a cadeia como
horizonte (mais na pág.88). Uma decepção que engrossa a diáspora do PT. Um
quarto dos 650 prefeitos, um sexto dos 12 senadores e um quinto dos 80
deputados federais saíram desde 2012. Os que ficaram escondem a filiação e
torcem para não entrar na estatística do ocaso. Desde 2004, o número de
prefeitos petistas cai nas capitais. Foram de nove para três e, ao depender das
pesquisas, não serão mais de dois em janeiro. Isto, claro, se o PT ainda
existir. Um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode levar à cassação
do partido por receber recursos desviados da Petrobras.
A decadência petista
O PT se apequena a cada pleito. Em
decadência nas grandes cidades, sua base eleitoral migrou para municípios
pequenos do norte e nordeste. São áreas dependentes da máquina pública e que
tendem a acompanhar a rejeição dos principais centros em um processo que deverá
se acelerar com o partido fora do governo. O PT segue a rota das legendas
condenadas ao ostracismo. A equação “crise econômica, impeachment e corrupção”
aflorou o antipetismo nos seus tradicionais redutos. É o que ocorre em São
Bernardo do Campo, onde Lula ganhou fama ao liderar greves na década de 70. Lá
a associação com a legenda se tornou um fardo e a candidatura do partido
patina. Na capital paulista, o prefeito Fernando Haddad amarga pífios 9% de
intenções de voto. “O PT é impopular, principalmente no Estado de São Paulo.
Virou uma sigla de grotões. Foi algo que ocorreu com o PFL, que só renasceu
graças a novas lideranças e após ser rebatizado como DEM”, diz o consultor
político Gaudêncio Torquato. “Será difícil ao PT reverter. É um partido velho e
com pouca renovação”, complementa. Para se ter ideia, a falta de nomes fez com
que o PT lançasse o menor número de candidatos a vereador e a prefeito em duas
décadas.
A ausência de perspectiva de poder e
a mácula da corrupção intensificam a debanda petista. O controle da máquina
federal evitou que a saída fosse maior. Cerca de trinta congressistas ensaiaram
deixar o PT. Foram demovidos de acompanhar o rumo de militantes históricos,
como os senadores Marta Suplicy e Walter Pinheiro, graças à distribuição de
cargos. Não há mais caneta para acalmá-los. Pelo contrário. Investigações, como
a Lava Jato, devem chegar a mais quadros. Um cenário que favorece a saída de
integrantes mais à esquerda que há tempos mostram contrariedade com as
correntes majoritárias. Nem o fiador da unidade partidária, o ex-presidente
Lula, pode estancar a sangria. Ele perdeu o respeito de antes. O status de réu
o torna um líder incômodo.
“O PT segue uma rota em direção ao ostracismo.
O antipetismo cresce até nas cidades onde
o partido nasceu e ganhou musculatura”
O antipetismo cresce até nas cidades onde
o partido nasceu e ganhou musculatura”
O PT, presidido por Rui Falcão,
comprometeu um de seus ativos: a capacidade de mobilização.Os anos no poder
levaram parte da militância a trocar o fervor das ruas pelos gabinetes. Aqueles
voluntários que confeccionavam bandeiras e distribuíam panfletos em disputas
eleitorais ficaram para a história. Foram trocados por campanhas bilionárias feitas
por marqueteiros remunerados com caixa dois no Brasil e no exterior. Tudo
bancado com recursos desviados. Dinheiro que também viciou os movimentos
sociais. CUT e MST, embriões do partido, abandonaram a postura combativa em
troca de verbas. Viram outras forças cresceram e ocuparem seus espaços.
O FIM ANUNCIADO
Fora do poder, o PT corre o risco de desaparecer. Confira:
Fora do poder, o PT corre o risco de desaparecer. Confira:
> Com rejeição histórica, o partido deverá enfrentar nas
eleições deste ano uma derrota acachapante
> Integrantes históricos articulam, nos bastidores, uma
debandada em massa
> O partido perdeu a capacidade de mobilização e renovação de
quadros. Suas bases sociais perderam espaço
> A Lava Jato deve alcançar o ex-presidente Lula e outros
líderes
> Procedimento do TSE pode cassar o PT por receber recursos
desviados do Petrolão
O drama petista vai além. O
partido corre o risco de ser cassado. Em agosto, o ministro Gilmar Mendes
enviou um ofício à corregedoria do TSE pedindo a instauração de um “exame de
escritura do partido”. Na prática, um procedimento que pode levar a extinção do
registro pelos crimes evidenciados na Lava Jato. Baseia-se naquilo que já ficou
comprovado. A cúpula do partido se estruturou como uma organização criminosa.
Pilhou a estatal por um projeto de poder, que elegeu Lula, Dilma e previa
eternizar a sigla. Petistas, a exemplo da senadora Gleisi Hoffmann, podem
alegar que a decisão remonta aos tempos da ditadura. Mas é falácia. Foi o PT
quem desvirtuou a democracia ao fazer dos cofres públicos uma fonte para se
perpetuar no comando do País. A estratégia só virou um tiro no pé porque
acabaram apanhados no flagra.
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