Roxette não é único ícone sueco... Pop da Suécia domina paradas com
letras e arranjos simples
País é 3º maior exportador de música do mundo, atrás de EUA e Reino
Unido. G1 explica pop sueco, que tem educação musical como base. Professoras de
inglês analisam versos fáceis.
ABBA,
Roxette e Ace of Base cantam em inglês, mas são representantes de três fases do
pop feito na Suécia. O país escandinavo é especialista em hits grudentos com
letras e arranjos mais simples, como os cantados por Marie Fredriksson, que morreu nesta segunda-feira (9).
Aprimorando
essa fórmula, Max Martin se tornou o produtor com maior número de hits número 1
nos últimos 50 anos. Desde o fim dos anos 90, o sueco levou 22 músicas ao topo
do hot 100 da "Billboard". A lista vai de Britney Spears a Justin
Timberlake, passando por Katy Perry, Pink, Maroon 5 e Taylor Swift .
"Podemos
ser uma nação pequena em termos de população, mas somos o terceiro exportador
de música do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido",
conta Johanna Brismar-Skoog, embaixadora da Suécia no Brasil, ao G1.
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Ela diz que o pop orgulha os suecos
não apenas do ponto de vista comercial, "mas também em termos de soft
power". A expressão (algo como "poder brando") é o termo para
falar da influência que um país exerce através do seus produtos culturais, como
o cinema americano.
"Uma das razões para o sucesso
da indústria fonográfica sueca está relacionada às políticas domésticas de
promoção da cultura e da experiência musical desde a infância", completa
ela.
Segundo estudo do Instituto Sueco, a
agência de promoção cultural equivalente ao British Council, cerca de 600 mil
suecos cantam em corais.
O número impressiona em um país com
10 milhões de habitantes. Ainda segundo o instituto, o investimento em cultura
do governo é de cerca de US$ 151 milhões por ano (R$ 626 milhões).
Desde 1997, o governo sueco também concede o Music Export Prize
para os que colaboram na exportação do pop local. Swedish House Mafia, Robyn,
ABBA, Hives, Cardigans, Martin e Roxette já foram premiados.
Um dos maiores nomes da eletrônica dos
últimos anos (Avicii, DJ morto em 2018) e duas das principais
plataformas de música on-line (Spotify e Soundcloud) também são suecos.
Qual a música típica sueca?
Em 1993, o trio de
irmãos Jenny, Linn e Jonas Berggren fincou "All that she wants" no
topo das paradas de todo mundo.
Hits como esse e "The Sign"
foram produzidos por Denniz Pop, morto em 1998, aos 35 anos. Ele foi o primeiro
grande produtor de pop sueco e, durante o tratamento para um câncer de
estômago, deixou o trabalho em seu estúdio nas mãos de seu então pupilo, Max
Martin.
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O quarto elemento do Ace of Base era Ulf Ekberg, que já falou ao G1 sobre o porquê dos
suecos serem uma máquina de hits: "Um dos nossos segredos é a habilidade
para versos pegajosos. Refrões grudentos são a nossa música típica."
Segundo Ekberg, desde os anos 60 o
governo local incentiva a educação musical básica nas escolas. "Você pode
aprender a tocar qualquer instrumento e ter aulas extras. Há estúdios para
ensaio, equipamentos, tudo o que você precisa é dado pelo governo."
Ekberg também diz que outro trunfo é o
idioma: "Pessoas no Japão ou na Alemanha entendem fácil nossas letras. Às
vezes, americanos ou ingleses escrevem versos complicados. É mais simples
entender o que um sueco está tentando dizer em inglês."
Candidata a popstar da nova geração, Zara Larsson tem 21 anos.
Mas as impressões da cantora sobre o sucesso do pop sueco são quase iguais às
dos veteranos, como já contou ao G1:
"Uma das razões é que temos aulas
de música desde pequenos. Eu sinto que por termos grandes músicos na nossa
história, isso nos faz ficar mais confiantes. Sabemos que podemos fazer
sucesso, porque outros suecos já fizeram."
"Eu acho que tem também uma
herança do socialismo, do ensino de qualidade para todos", diz Zara.
"Eu era paga para ir à escola. Tudo o que é necessário para se viver temos
de graça, como bons médicos e dentistas. Isso faz com que possamos estar mais
leves para fazer boa música pop."
Fácil de cantar
junto
Muitas letras do pop sueco têm um
inglês quase rudimentar, com expressões que causam estranhamento em quem é
fluente no idioma de Beyoncé e Shakespeare:
·
"All that she wants", do Ace of Base, tem versos sobre
"pegar um bronzeado" ("catching tan") e diz que a moça da
canção quer "mais um bebê" ("another baby"). Era para ser
"crush", mas parece ser neném;
·
"How do you do!" é como um trava língua nível easy, dada a
repetição de palavras: "How do you do, do you do! The things that you
do?" "Hello, you fool, I love you", de "Joyride",
também é dureza e ninguém fala assim na vida real;
·
"...Baby one more time", primeiro hit de Britney Spears, tem
letra escrita por suecos. O "hit" era para ser "liga pra
mim", mas fica parecendo que Brit quer apanhar. A pancada involuntária
ficou na letra mas foi tirada do título da música, que se chamava "Hit me
baby one more time";
·
O ABBA, quarteto formado por dois casais que depois se separaram, também
têm versos bem diretos.
Estudando o pop
sueco
A pedido do G1, professoras de inglês analisaram algumas das letras do pop sueco. Veja
trechos dos comentários delas.
Jackie Katsis (dona do canal Ask
Jackie, no YouTube) e Carina Fragozo (do canal English in Brazil) falaram dos
seguintes versos:
Ace of
Bace - 'All that she wants'
Jackie: "O uso da
palavra 'baby' soa um pouco diferente e não seria normal para um nativo."
Carina: "A música fala
sobre uma mulher que não quer ter um relacionamento sério, que quer se divertir
com parceiros diferentes. a música diz que ela é uma 'caçadora' e você (o
homem) a 'raposa', o que também mostra a mulher como a parte dominadora da
relação e o homem como o subordinado."'
Britney
Spears - '...Baby one more time'
Jackie: "A linguagem
fica um pouco estranha em alguns momentos. 'Hit me baby' soa muito estranho em
inglês e até parece violento."
Carina: "Uma tradução
possível de 'hit' é 'bater', ou seja: me bata mais uma vez, querido. Outra
possível tradução para 'hit' seria o efeito que uma droga traz, a euforia que
se sente. Poderia indicar o desejo de sentir isso com a paixão. Mas o autor
disse que o uso de 'hit' foi um engano! Ele pensou que era uma gíria para
'call' (ligar), já que existe a expressão 'hit me up', que significa 'ligar,
telefonar'. Acontece que sem o 'up' o 'hit' perde esse sentido de fazer uma
ligação e acaba dando a entender que o significado é um dos dois mencionados
acima. Então, em vez de dizer 'me ligue de novo, querido', a canção acabou
ficando 'me bata de novo, querido'."
Backstreet
Boys - 'I want it that way'
ackie: "Um erro
na música é 'Can't reach to your heart' (não deve ter o 'to' na frase). Não é
uma surpresa que a música tenha sido escrita por um estrangeiro."
Carina: "O
significado não é tão fácil de interpretar. É possível entender que o casal
está separado, ou vive em realidades diferentes. É bem difícil entender o sentido
do verso 'Me diga por que / Nunca quero escutar você dizer / Quero isso daquele
jeito'. Não parece fazer muito sentido."
Roxette - 'How do you do!'
Jackie: "O 'How
do you do?' para perguntar 'Tudo bem?' é correto. Seria muito formal e não
muito usado. Mas 'How do you do the things that you do?' é 'Como você faz as
coisas que você faz?'. Tudo bem assim."
Jackie: "Essa
música não tem nenhum erro E não dá para perceber que um estrangeiro escreveu a
música. Em 'Digging the dancing queen', digging é uma gíria popular entre os
nativos da língua inglesa. Em 'Night is young and the music's high', falaríamos
que a música está alta, 'loud'. Seria uma licença poética dizer 'high'."
Carina: "Não
há indícios de que não tenha sido escrita por um falante nativo de inglês. Há
termos datados como a gíria 'dig', que era comum nos anos 70. É uma letra
simples."
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